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E assim começa a historia...

Mari Linda, 01/08/2013

Com a certeza que tudo que vivi ate agora em relação à Alemanha foi apenas o prefácio, começo no embarque, a minha historia.

É fato que entrar no avião sabendo que ele te levará para uma nova vida dá um frio na barriga de qualquer um. Comigo não foi diferente, não senti só um frio na barriga, foi um frio no corpo todo, as borboletas que antes se limitavam ao meu estômago romperam as barreiras e se espalharam por todo o corpo, sentia pequenos espasmos musculares do dedão do pé ao fio do cabelo. Entro no avião tentando fazer cara de naturalidade, cara de gente que já viajou o mundo todo e que sabe o que tem que fazer uma mulher loira de olho muito azul me recebe ainda na porta com um sorriso quase forcado e me diz um "Boa tarde" num português muito meia boca! Mostro para ela minha passagem e me responde algo que até agora não sei o quê e me aponta um lugar, faço de conta que entendi e me assento.

As pessoas continuam a movimentar, mas elas pareciam saber o que estava acontecendo e eu mantinha a minha cara de naturalidade, pelo menos eu pensava que mantinha! Mal sabia eu que a melhor parte ainda estava por vir! Acende um monitor em frente a mim e outra mulher loira de olhos também azuis começa a falar, percebo que são as instruções de voo e então começo a rezar para que ela não esteja falando nada de importante. Uso minhas táticas de deduções e de interpretação de figuras para descobrir que não podia fumar dentro do avião, que tem uma luz no teto que diz a hora que você deve usar o cinto e que as saídas de emergência ficavam dos lados. Acho que entendi tudo, mas o vídeo demorou mais de 20 minutos, logo imagino que ela falou mais coisas. Acho que nada de importante! (Risos)

A impressão que tinha era que tava fazendo figuração em algum filme, podia apostar com qualquer um que o avião estava parado e que eu ainda estava em Salvador, a menos pela bendita tela que mostrava que estávamos a 4000 ou 5000 metros de altura, andando a quase 600km/h e atravessando o oceano. Tentei me manter calma, usei do meu alto poder de convencimento para me provar que se Deus tinha me feito passar por tudo que passei Ele não iria derrubar o avião em alto mar e me deixar morrer sem conhecer a tão esperada Alemanha.

Ainda bem que estava certa e depois de quase 11 horas de voo, muitos devaneios, muita comida congelada e falas que eu não entendia, pousamos em Frankfurt em segurança. Escuto as últimas instruções e desço do avião, ao pisar pela primeira fez em solo germânico um arrepio toma meu corpo e a vontade que tenho é de chorar. Não um choro de tristeza, aquele que dói, chorar um choro de quem diz: "Porra! Eu consegui! Eu sonhei, eu acreditei, eu não duvidei e agora estou aqui!", mas não era hora. Eu mantive a minha postura e segui o fluxo! Aqui fica uma dica para quem em alguma situação não tiver a menor idéia do que fazer: Faz cara de que sabe e segue o fluxo! Pra mim deu certo! (Risos) Cheguei, depois de andar muito, no controle de passaportes. Peguei o meu juntamente aos documentos que falaram que seriam necessários e entreguei para o rapaz que estava sentado em frente ao um computador com cara de mal (acho que ele também tinha olhos azuis, mas nem reparei). Ele me olhou com indiferença e me disse algo que também não sei o que foi, e nessa hora senti vontade de chorar um choro de desespero, pedi a ele que falasse em inglês, mas ele só me disse que precisaríamos ir a outro lugar, abaixou a janela que estava entre nós, apareceu no canto da cabine e me mandou seguir. Essa hora eu devia estar branca, como ele, e minha mão suava frio, chegamos a uma porta, que tinha escrito nela, algo que eu entendi como: "Polícia Federal da Alemanha". Olhei de leve pro teto a procura de Deus, acho que tava esperando ele aparecer e dizer: "Pegadinha do Malandro!", porém acho que ele preferiu se omitir. O rapaz apenas me mandou sentar em uma cadeira e passou pro outro lado do balcão. Enquanto ele conversar com os outros, coisas que eu não fazia idéia do que era (Mas com certeza eles disseram muitas consoantes!), eu pensava apenas que o meu sonho alemão havia acabado ali, pensava ainda se ele me deixaria tirar uma foto dele e dos outros para mostrar para o meu neto que um dia tinha estado na Alemanha. Depois de um tempo, que para mim pareceu uns 3 dias, ele veio caminhando pro meu lado, eu levantei, fui ao seu encontro com cara de "cachorro que caiu da mudança". E ele apenas disse que eu tinha três meses pra tirar o visto! Acho que eu fiz cara de "Que merda!" pra ele, virei às costas e sai quase correndo. Minha vontade era sair pulando, gritando e fazendo dancinhas estranhas, mas fiquei com medo dele mudar de idéia e me mandar voltar para o Brasil.

A melhor parte é que como demorei, o fluxo de pessoas não existia mais e então usei a segunda tática infalível para situações que você não sabe o que fazer ( e não sabe pedir informação ^^ ): Escolher um placa e seguir ela até as últimas conseqüências. Estava quase correndo pelo aeroporto, quando desci uma escada e reencontrei os meus adoráveis, desconhecidos, companheiros de viagem. Que alívio! Peguei a minha mala que a essa altura passava pela esteira bem a minha frente e sai. Decidir pegar um carrinho para levá-la e me deparei com uma máquina bem legal, mas que não foi muito com a minha cara! Cheia de mim, li as instruções (Olhei os desenhos! kkk) e fiz como entendi. Nada! Afastei-me esperei outra pessoa ir , analisei o que ela fez, voltei a máquina, repeti o que vi e nada! Desisti sai puxando minha mala por alguns metros, parei e resolvi tentar pela última vez. Voltei, fiz exatamente o que já tinha feito e ela liberou o carinho, tive vontade de chutar ela, mas me controlei.

Encontrei uns meninos que estavam na mesma situação que eu e passamos juntos pelo que eu entendi sendo como: "controle de bagagem", mas na verdade era um controle de rosto, afinal a mulher olhou pra minha cara e me mandou seguir, tive certeza que tenho cara de boa pessoa! Ainda bem, já tinha sido muita adrenalina para um dia só.

Uma curva e pronto deparei-me com aqueles adoráveis olhos azuis, diferente dos que tinha visto nas últimas horas, esses pareciam felizes de me ver! Um abraço, as lágrimas voltaram aos olhos, senti vontade de chorar um choro que diria: "Não me lembrava do tanto que é importante para mim! Ah Júlia, acho que você nunca vai saber o quanto foi importante aquele abraço!", mas esse choro não foi necessário.

Já estava em segurança.

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